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    A corrida do ouro no futebol feminino

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    O futebol feminino está vivenciando uma transformação sem precedentes, evoluindo de um esporte marginalizado para um negócio que caminha a passos largos para a casa dos bilhões de dólares. As receitas globais da modalidade devem crescer de 740 milhões de dólares em 2024 para 820 milhões de dólares em 2025, representando 35% das receitas totais dos esportes de elite femininos, que devem atingir pelo menos 2,35 bilhões de dólares em 2025. Esta análise examina como o futebol feminino se transformou da “irmã mais nova” do futebol masculino em um segmento de negócio independente e com alto potencial de lucratividade.

    O Ponto de Virada: Números Impressionantes

    A revolução do futebol feminino pode ser medida em dados concretos que refletem uma mudança fundamental na percepção e na valorização do esporte. É possível observar o crescimento exponencial de receita quando as 15 principais equipes femininas registraram um crescimento de 35% na receita na temporada 2023/24, ultrapassando a marca de € 100 milhões pela primeira vez. O Arsenal Women registrou um crescimento de 138% ano a ano , enquanto o Barcelona Femení viu um crescimento de 74%, atingindo 13,4 milhões de euros em 2022-23. A liga inglesa (WSL) já possui acordos de transmissão com valores anuais de 8,7 milhões de euros, que aumentarão para 15,2 milhões de euros a partir de 2025/26. A final da Copa do Mundo Feminina de 2023 (Espanha vs. Inglaterra) teve mais de 12 milhões de espectadores na BBC, superando a final masculina de Wimbledon. Além disso, um estudo de 2024 classificou o futebol feminino como o quinto esporte com maior público presencial no Reino Unido.

    “A final da Copa do Mundo Feminina de 2023 (Espanha vs. Inglaterra) teve mais de 12 milhões de espectadores na BBC, superando a final masculina de Wimbledon.”

    O Caso do OL Lyon: Lições de Transformação

    O fascinante estudo de caso da transformação do OL Lyon em Olympique Lyonnais revela as complexidades de reposicionar uma marca histórica no mercado moderno do futebol feminino. A entrada de Michelle Kang como investidora em 2023 marcou um ponto de virada, trazendo a visão de transformar o clube de “irmã mais nova” em uma referência independente. A mudança de identidade visual e nome para “Olympique Lyonnais” foi uma declaração de independência comercial.

    A estratégia enfrentou resistência inicial dos fãs tradicionais, mas ganhou apoio de jogadoras internacionais e novos públicos. O caso do Lyon revela aspectos cruciais do modelo de negócio, como a mudança do centro de treinamento, que possui capacidade para 1.500 pessoas, para o estádio principal, com aproximadamente 60.000 de capacidade, representando um investimento estratégico na experiência do fã, bem como preços acessíveis de ingressos entre 5 e 30 euros. Assim, enquanto o clube mantém a acessibilidade, educa o mercado sobre o valor do produto, superando a antiga cultura de convites.

    “A transformação do OL Lyon mostra como o futebol feminino está deixando de ser um projeto simbólico para se tornar um negócio com identidade própria e sustentável.”

    A Nova Economia do Futebol Feminino

    A análise da Deloitte mostra que as receitas comerciais representaram 55% do total em 2024, seguidas pela transmissão (27%) e pelo dia do jogo (18%). Isso revela a importância crescente de parcerias e patrocínios específicos para a modalidade.

    A tendência de “unbundling”, uma separação dos acordos comerciais femininos dos masculinos, está criando oportunidades de investimento mais direcionadas. Apenas sete dos principais clubes europeus negociam o patrocínio da camisa do time feminino separadamente, mas 38% de todos os clubes femininos profissionais já têm um patrocinador principal exclusivo.

    O sucesso dessa abordagem é visível em casos como o da estrela americana Alex Morgan, que em 2022 ganhou 6,3 milhões de dólares em contratos comerciais, em contraste com seu salário de 800 mil dólares como jogadora.

    O Mercado Brasileiro: Uma Oportunidade Estratégica para 2027

    A realização da Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2027 no Brasil é uma oportunidade única para destravar um dos maiores mercados emergentes do mundo. As lições aprendidas na Europa são diretamente aplicáveis ao cenário brasileiro:

    • Potencial de Mercado e a Lei da SAF: O Brasil tem uma imensa tradição no futebol (representando 0,72% do PIB nacional) e um novo arcabouço regulatório com a Lei da SAF, que cria um ambiente de segurança jurídica para investidores. Isso posiciona o país para atrair capital global dedicado ao esporte, semelhante aos investimentos de grupos como o Mercury 13 na Europa.
    • Aplicando o Modelo Europeu: Os clubes brasileiros podem usar o “unbundling” para criar propostas de valor específicas para suas equipes femininas, atraindo patrocinadores que buscam se associar aos valores de progresso e diversidade do esporte. O caso do OL Lyon serve de manual — a criação de uma identidade de marca forte e independente pode atrair novos públicos e parceiros que talvez não se conectem com a marca tradicional do futebol masculino.

    Desafios e Oportunidades

    Apesar do crescimento, a sustentabilidade financeira continua sendo um desafio fundamental. O caso do Lyon, que registrou prejuízo mesmo com recorde de 38.000 torcedores, destaca que a indústria está em uma fase de alto investimento que precede a lucratividade. Isso reforça a necessidade de investidores comprometidos e modelos de negócio inovadores.

    O engajamento de jovens atletas também é crucial. Manter as meninas no esporte durante a adolescência (entre 12 e 14 anos) é um momento decisivo para o futuro da modalidade.

    Conclusão: A Virada de Jogo

    O futebol feminino não está apenas crescendo, está se reinventando como um negócio independente e próspero. A modalidade provou que pode gerar valor comercial significativo quando tratada como um produto premium. Clubes como o OL Lyon, com sua ousada estratégia de rebranding, e investidores como Michelle Kang, estão escrevendo o manual de como monetizar e profissionalizar o futebol feminino.

    Para investidores, marcas e gestores no Brasil, a Copa do Mundo de 2027 representa um momento de oportunidade única. O futebol feminino oferece algo cada vez mais raro no mercado esportivo saturado: a chance de ser pioneiro. A questão não é mais se investir no futebol feminino, mas como e quando fazer esse movimento estratégico. O futuro bilionário do futebol feminino já chegou.

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    Carolina Milão Flores
    Carolina Milão Flores
    Carolina Milão Flores is a biomedical completing her law degree and Football Business Academy alumna specializing in football management. She focuses on women's football development across Latin America, combining scientific knowledge with legal expertise and business perspective to drive sustainable growth and professionalization in the women's game.

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